JUÍZES, JUÍZES, JUÍZES...

Colunista elogia trabalho de Caio Júnior e comenta 'pessimismo alvinegro'

O Botafogo suou sangue para vencer o lanterna América no Engenhão, depois de um começo de bobeadas individuais. O suficiente para acionar o mecanismo automático de vaias costumeiras do torcedor alvinegro. É a mesma velha aparelhagem existente no Maracanã, Caio Martins e Engenhão. Aquele mesmo botafoguense que xingava Quarentinha que não celebrava os gols nos anos 50-60. Botafoguense que chegava a criticar Nilton Santos e Gerson. Imagine, então, o que não fez com Fahel. O que cobrava o Lucio Flavio mesmo campeão. O que ainda apoquenta Alessandro.

Mas esse é o histórico botafoguense. De bisavô para bisneto. Aquilo que o cineasta João Moreira Salles, em um dos melhores textos já escritos sobre futebol e futebolistas, bem descreveu: “Seria bom se a vida fosse um domingo de sol no Taiti. Acontece que não é. Os pessimistas sabem disso. Nós, os botafoguenses, também”.

Caio Junior conseguiu levar o Paraná para a Libertadores, com bela campanha no BR-06. Sabe de bola, e é um dos mais estudiosos e sérios treinadores no mercado. Além de gente ótima. Um cara que as pessoas gostam e confiam. Ajuda. Com os reforços que chegaram a General Severiano, pode montar um time muito melhor que a encomenda inicial. É só ter o tempo que não se dá aos treinadores e aos times brasileiros. É só ter a paciência que o botafoguense não teve, não tem e, pelo visto, jamais terá. Tenha Garrincha ou Cremilson na ponta direita, o botafoguense vai ter sempre uma ponta colossal de desconfiança. Para não dizer uma vaia ensaiada na ponta da língua e uma arma ensarilhada na ponta dos dedos.

Saber administrar essa pressão da arquibancada (ainda que no Engenhão ela fique tão longe do gramado) é algo tão complexo quanto arrumar um time com a bola rolando. Se não há como mudar o espírito singular do botafoguense, há como a imprensa observar notáveis progressos na equipe de Caio. Mais organizada defensivamente, com mais opções de ataque, e um banco com razoável capacidade de mudança. Para melhor. Por mais que o botafoguense pense quase sempre no pior.

Fonte: Coluna do Mauro Beting - Lance!